PRETO NO BRANCO #21
I – Raça e crença...
II – Serão esses os adjectivos que caracterizarão na plenitude a exibição do Vitória perante o sempre rival, Boavista. Na verdade, foram noventa minutos sempre a abrir, sempre a querer conjugar coração com razão... mesmo nos momentos em que a felicidade parecia querer virar as costas a um conjunto que tudo fez para que esta lhe sorrisse!
III – Apostando na equipa base dos últimos jogos, à excepção do desafio da Taça de Portugal em Canelas, e com apenas Mickey a substituir Rúben Lameiras em relação à contenda de Paços de Ferreira, os Conquistadores entraram em campo a transbordar confiança. Na verdade, o ciclo de quatro desafios sem conhecer a derrota na Liga Nacional serviam, acima de tudo, para acreditar que a série poderia continuar...
IV – Começariam melhor os vitorianos. Apoiados pelo nosso sempre eternamente apaixonado público, apesar de não conseguirem, de imediato, criar oportunidades, empurrariam o adversário para o seu último reduto. Mickey dava criatividade ao jogo e fazia esquecer um Luz que ontem não se acendeu... bastante mais apagado que nas últimas partidas.
V – O golo inaugural da contenda surgiria nessa toada. Desequilíbrio causado por Anderson que, numa jogada individual, ganha uma grande penalidade. Tiago Silva apontá-la-ia com mestria, dedicando-a a Antonin, abalado pelo falecimento de um familiar e, por isso, fora da convocatória. Pensava-se que o pior estivesse feito... atendendo às debilidades psicológicas de um oponente aturdido por uma alucinante eliminação da Taça de Portugal por um adversário do quarto escalão.
VI – Com mais certezas disso ficariam os adeptos presentes no estádio, quando Mangas foi expulso. Contra dez, a vencer, o jogo parecia na mão! Porém seria um engano... uma falta desnecessária de Mickey, no único momento infeliz de mais um jogo brilhante que protagonizou, proporcionaria o livre que faria Sasso empatar o prélio, mesmo antes do intervalo... injusto pela produção das equipas, mas a lembrar que em alta competição a cabeça deve sempre manter-se gélida.
VII -A segunda metade começaria com as premissas da inicial, ainda que com o Vitória a carregar mais no acelerador. Muitas vezes com pouca arte, outras sem engenho e com um sistema de jogo a parecer desajustado, atendendo aos três centrais que não raras vezes encontravam-se sem qualquer oponente para marcar.
VIII – Por isso, Moreno arrisco. Retirou de liça o amarelado Bamba e o fatigado Tiago Silva para colocar em campo Janvier e Safira. Depois de já ter retirado Afonso Freitas para colocar Lameiras. O Vitória passava a jogar em 4-2-4, em vez do já habitual 3-4-3 e a ordem era para massacrar!
IX – Porém seria numa transição rápida que o adversário, aproveitando um deslize de Janver, gelaria o D. Afonso Henriques. Um contra-ataque venenoso, num momento em que o líbero Bamba se estivesse em campo poderia ter dobrado Villanueva. Diria Moreno na conferência de imprensa que “na bancada já diziam que o Moreno não percebe nada disto”, mas a verdade é que jamais algum treinador em Guimarães terá sido crucificado por tentar vencer o jogo... muito menos com a leitura dos factos do jogo tão clara como teve!
X – Pensou-se que os Conquistadores pudessem soçobrar... nas bancadas, a estupefacção tomava conta dos adeptos, enquanto de um dos topos a outra equipa era apoiada mediante insultos ao Vitória (estranha forma de apoiar!), numa boçalidade e brejeirice indignas de um Domingo à noite. Porém, perdido por cem, perdido por mil...
XI – O Vitória, por isso, lançou-se ao jogo... com Jota já em campo no lugar de José Carlos, seria o tudo por tudo. Oportunidades em catadupa de uma bola que parecia não querer entrar! Golos anulados... nervos, muitos nervos!
XII – Até que de um lançamento de linha lateral, Janvier redimir-se-ia do erro cometido! Um tiro indefensável à entrada da área, bola na gaveta e o vulcão do Afonso Henriques em erupção! Pelo menos, alguma justiça estava feita!
XIII – Acreditou-se em mais... das bancadas o impossível de há minutos atrás era um desejo urgente, premente. Os jogadores acreditavam em algo mais perante um adversário que dez minutos atrás acreditava num êxito imerecido! Seria de um lançamento lateral bem já dentro da compensação, que André Amaro faria explodir de vez o estádio com um cabeceamento sublime!
XIV – Era o golo do triunfo desnecessariamente sofrido perante dez adversários... mas, acima de tudo, saboroso! Por ser um derby, pelo tradicional jogo de provocações, pelos constantes insultos durante noventa minutos de adeptos, que segundo o treinador da equipa, apoiaram incessantemente...estranha e súcia forma de ver e interpretar o futebol!
XV – O Vitória vencia, o treinador, muito pequeno na mentalidade (mas favor ler o pequeno em francês, para ser mais chique) ia à bancada gritar que eram campeões... o Belenenses, também, o foi e agora anda na Liga 3 e de passado vivem os museus!
XVI – Esta crónica poderia dar um filme... o bom salvar-se, resolver os problemas quando pareciam irresolúveis e o vilão castigado exemplarmente! Mas não...foi só mais um episódio de um dos maiores clássicos do futebol português.
XVII – Segue-se o Famalicão em casa, numa contenda sempre difícil. Bastará dizer que nos últimos três anos, as épocas que os famalicenses levam desde o seu regresso à Primeira Liga, já sucederam os três resultados. Urge continuar manter este espírito para dar continuidade a esta senda vitoriosa.
XVIII – VIVA O VITÓRIA!
Vasco André Rodrigues