Sinto que sobre o Jota Silva não terão sido escritas ainda todas as palavras que é preciso.
É que é difícil alcançar a dimensão que lhe merecem e não frustrar a ambição de alcançar essa justiça, missão à partida fracassada.
Ainda assim, todas serão menos uma na tentativa de lá chegar.
Tentarei.
Não sei se lhe terá sido devidamente reconhecido o quanto nos deu, o quanto elevou o nosso nome e representou o nosso sonho, o exemplo em que se tornou e a admiração que despertou em unanimidade, do avô ao neto.
É que não é só sobre a qualidade absurda do seu futebol, sobre a diferença que faz em campo, os golos que marca e os pontos que garante. Sobre isso os livros de história falarão, a estatística comprovará.
É sobre bem mais do que isso. É sobre coração e legado.
Na voz que mais ninguém soube levar tão alto e tão acertada, defendeu-nos sem armas apontadas, afastou ruído e uniu sempre que quiseram afastar, trocou inimigos por adversários, puxou mãos de quem caiu e abraçou quem brilhou ou só precisou, não quis ser maior do que ninguém e com isso tornou-se maior do que todos.
Não é coisa pouca o que faz quando não esquece, a cada conquista, de agradecer de onde veio e quem o ajudou pelo caminho. A generosidade com que distribui méritos e enaltece o brilho dos que o acompanham, não é coisa pouca. É raro e precioso. É a mesma vontade com que quer trabalhar sempre mais (para não perder aquele lance de golo no jogo mais especial da carreira, a quem mais preocuparia num momento mágico assim?), evoluir sempre mais, não desrespeitar o talento que sabe ser uma benção. É coisa de iluminado.
O Jota encaixou na nossa história de amor como um predestinado, um desafio aos descrentes do destino, poderia em alguma vida não ter sido assim?
Talvez só na dimensão da epopeia que é este nosso amor, poderá caber o tamanho do quanto temos a agradecer-lhe e a orgulhar-nos do quanto esta história foi bonita.
Hoje, de coração partido como em tantas outras vezes, por despedidas e amargos terrenos, sabemos ter de deixá-lo ir sem nunca conseguir dizer o tanto que é ter aprendido com ele a acreditar outra vez na força de sonhar.
Que lhe honrem o legado e não esqueçam que só compensa quando o fazemos unidos, uns com os outros, uns pelos outros!
✍️ Cláudia Bragança