Raquel F. Veiga
A vimaranense Francisca Jorge somou, na tarde de ontem, o quarto troféu internacional ao palmarés, o primeiro de 25 mil dólares. Depois de ter sido campeã em Lousada em outubro e novembro de 2018 e novamente em outubro de 2019, sempre em torneios de 15 mil dólares, a tenista alcançou a primeira final de um torneio desta categoria no Porto em outubro de 2020. Perdeu para Georgina Garcia Perez por 2-1. Voltou às finais nesse mês, no Funchal, para perder o título para Breatriz Haddad Maia (que hoje foi eliminada na primeira ronda de Wimbledon!). Pelo meio, foi forçada a lidar com uma lesão que a afastou do court durante meses. Regressou aos torneios e eventualmente às finais. No sábado alcançou a sétima em torneios internacionais. E desta vez, em Cantanhede, ninguém a superou. Na final, frente à 116.ª do mundo, Francisca Jorge sagrou-se campeã e venceu o troféu mais importante da carreira. A Rádio Inquieta falou com a tenista no dia seguinte e duas semanas antes do Guimarães Ladies Open, o torneio que vai jogar na cidade onde nasceu.
“Superei as minhas expectativas, fui com expectativas baixas, e acho que mostrei um nível bastante bom”, começa por dizer no dia seguinte a sagrar-se campeã. Entretanto já saiu de Cantanhede e chegou ao Porto para se preparar para o torneio em que vai participar esta semana. É na cidade invicta que nos atende a chamada e mesmo através do telemóvel é possível perceber que do outro lado está uma atleta feliz com a superação de um desafio. Se não fosse possível notar, as palavras de Francisca Jorge seriam suficientes para esclarecer qualquer dúvida: “estou muito orgulhosa de mim própria, acho que lidei bem com as condições e com a situação, e mereci, acho que mereci, estou muito contente”. É um troféu importante e a resposta está na ponta da língua: “é, sem dúvida”, responde-nos quando a questionamos sobre se esta foi a vitória mais importante da sua carreira até agora. E adquiriu logo esse estatuto não só por significar vencer o primeiro troféu ITF de 25 mil dólares, mas por acontecer agora e não antes ou depois. “Eu sentia que já andava a trabalhar bem, a treinar bem e a preparar-me para ter melhores resultados e as coisas não estavam a acontecer”, disse e confessa que “já há algum tempo” desejava vencer um torneio destes, especialmente depois de ter perdido a final no Porto em 2020.
A frustração, no entanto, acabou por conduzir a vimaranense a adotar uma atitude mais assertiva e foi isso que fez com que ontem, em court, tudo corresse da melhor forma possível: “foi o culminar de ter mais resiliência e acreditar um bocadinho mais que era possível, lutar até ao fim, jogar os pontos todos sem desistir”. A receita foi esta, com o trabalho e a crença como ingredientes principais: “acho que isto se resume a trabalhar muito e acreditar que é possível”. E foi possível, mesmo com uma jornada dupla no sábado que fez com que Francisca Jorge estivesse em court durante três horas e 25 minutos para ultrapassar duas adversárias: primeiro a alemã Kathleen Kanev, 632 do mundo, batida em 2h35 com os parciais 7-5, 4-6 e 6-3; e depois a brasileira Ingrid Gamarra Martins, 510 WTA, pelos parciais 6-2, 4-6 e 6-1 ao cabo de 1h50. Um dia em que o papel do treinador foi fundamental. Numa altura em que se discute o coaching durante os jogos de ténis, o treinador da vimaranense foi fundamental antes da entrada em court: “ele sentiu que eu estava um bocadinho mais em baixo e deu-me ali um toque, umas palavras um bocadinho mais assertivas e fez-me se calhar relativizar um bocadinho o que eu estava a sentir”. É por isso que agora, no dia seguinte, os louros são divididos. “Esta vitória foi muito dele”, começa por dizer a tenista. E concluí: “foi toda minha, mas foi muito dele também”.
Depois de um dia de muito ténis no Clube Escola de Ténis de Cantanhede, a rotina mudou no domingo da final. Em vez de ouvir o despertador tocar cedo pela manhã, Francisca Jorge ficou a descansar até mais tarde e fez “o aquecimento mais perto da hora do jogo, mais focado”. No fim, a tenista reconhece que foi a melhor decisão e, com o troféu a embelezar um palmarés já recheado, admite que, em retrospetiva, não havia nada que fizesse de forma diferente: “ter descansado de manhã fez todo o sentido e fez toda a diferença porque estava muito mais ativa à tarde, estive muito bem, não mudaria nada”. O resultado, esse, dificilmente podia ser melhor. Com Vitalia Diatchenko, número 116 do mundo (e ex-top 100), do outro lado da rede, a número um nacional nunca se sentiu amedrontada e carimbou o triunfo mais importante da carreira na final de um torneio ITF de 25 mil dólares por 2-0 com os parciais de 7-5 e 7-5.
Depois de cimentar o estatuto de melhor portuguesa da atualidade, Francisca Jorge viajou para o Porto na manhã de hoje para marcar presença no quadro principal do ITF M25 do Porto. O objetivo não podia ser outro: “é alcançar a final”. A vimaranense garante que essa meta já estava estabelecida antes do jogo de ontem, mas “faz ainda mais sentido depois desta vitória”. O caminho, diz, é “continuar humilde e dar o máximo nos jogos todos”. Não só para se sagrar campeã uma vez mais, mas “para marcar posição e mostrar que consigo jogar bem neste nível de torneios e ambicionar crescer e subir para jogar torneios melhores”. A número 367 do ranking mundial está quase a regressar a casa para jogar no território que melhor conhece. A partir do dia 11 de julho, Francisca Jorge, a melhor portuguesa da atualidade, vai estar, a par da irmã Matilde Jorge, número dois do ranking nacional, no Guimarães Ladies Open, um torneio internacional de 25 mil dólares. Kika, como é carinhosamente tratada, admite que já se sente nervosa por jogar num sítio onde conhece a maior parte das pessoas, mas está focada em valorizar o apoio que recebe aqui mais do que em qualquer outro sítio: “tenho que valorizar o apoio que é realmente verdadeiro porque eles querem que eu singre ali também”.