Sofia Oliveira, a aluna, e Manuel Gomes, o treinador, foram os únicos portugueses a viajar para Budapeste, na Hungria, com o objetivo de participar na Taça do Mundo de Kickboxing. E desta vez, ao contrário do habitual, não foi só um dos dois a subir ao ringue. Sofia viu o treinador calçar as luvas e pôr-se no papel de atleta. No regresso a Guimarães, na próxima terça-feira, as malas dos representantes do Clube Desportivo de Guimarães vão pesar um bocadinho mais do que na viagem de ida: trazem duas medalhas.
A primeira foi de Manuel. E podia ter sido de ouro. Manuel Gomes, que está mais habituado a ser treinador do que atleta, garantiu a medalha de prata na sexta-feira depois de derrotar o grego Vasileios Papanikolaou por 3-0. O resultado esclarecedor deixou Manuel na final da categoria Kick-Light -84 kg. Com o alemão Stefan Hoppe à espera no combate que decidia o vencedor, Manuel viu-se forçado a desistir depois de sofrer uma lesão na zona do tendão de aquiles durante o primeiro combate.
No tatami, o treinador deu lugar à aluna que aplicou o mesmo resultado à finlandesa Kaisa Kuisma no arranque da competição da categoria K1 -60 kg. Na meia-final, Sofia encontrou a austríaca Stella Hemetsberger, que já tinha vencido o último encontro entre as duas no Campeonato do Mundo de 2021. A atleta do Clube Desportivo de Guimarães quis vingar-se, e quase conseguiu, mas perdeu por 2-1. A um mês de viajar para os World Games e depois de receber a medalha de prata em Budapeste, Sofia esteve à conversa com a Rádio Inquieta.
Sofia Oliveira: “acho que estamos no caminho certo e a evoluir”
Depois de conquistar uma medalha no tatami ontem e uma corrida de 11 quilómetros pela cidade de Budapeste e poucos minutos antes de pôr o bronze ao peito, a famalicense Sofia Oliveira trocou umas palavras com a Rádio Inquieta. Atleta do Clube Desportivo de Guimarães, tornou-se na primeira mulher portuguesa, na modalidade de kickboxing, a garantir o apuramento para os World Games. Daqui a sensivelmente um mês parte com Manuel Gomes, o treinador, para Birmingham, nos Estados Unidos da América, para participar da prova que agrega as modalidades não olímpicas reconhecidas pelo Comité Olímpico Internacional.
Foi com intenção de se preparar para os World Games que Sofia viajou para Budapeste: “viemos para nos colocarmos à prova, saber como estamos física e psicologicamente porque era uma prova importante, em que participam atletas importantes e com grande potencial”. A expectativa nem era “trazer a medalha”, disse-nos Sofia. E completa: “viemos mesmo com o pensamento de nos testarmos”. Apesar de não ter chegado a discutir a medalha de ouro – que acabou por ficar com a austríaca que a eliminou –, os sinais foram positivos: “fisicamente senti-me bem, acho que estamos no caminho certo e a evoluir”.
Quando a decisão não está só nas mãos dos atletas, é-lhes mais difícil explicar com precisão o que é que correu mal num combate que não desagua num triunfo, mas que “nestes campeonatos é sempre difícil” já sabia a atleta do Desportivo de Guimarães. Ela explica: “a decisão às vezes não é só nossa, não basta batermos mais do que a adversária”. A pergunta provoca uma reflexão sobre o panorama geral do kickboxing – e das modalidades de combate – a Sofia Oliveira, que é também estudante de Engenharia Eletrónica Industrial e Computadores na Universidade do Minho: “há uma série de coisas em que temos de evoluir, Portugal precisa de árbitros nestes campeonatos, precisa de fazer alguma pressão externa para que determinadas decisões não sejam influenciadas”.
Ver o treinador adotar o papel de atleta e “também a sentir na pele o que é ser atleta neste tipo de provas” foi, diz a pupila, “engraçado”. Regressar a Portugal com duas e não apenas com uma medalha tem “um sabor especial” até porque em Budapeste estiveram “os melhores de cada país”. E os melhores de Portugal partiram do Clube Desportivo de Guimarães e vão regressar a solo luso com duas medalhas com os World Games ao virar da esquina.