Ali Hasan e o voo das águias: da Síria para Guimarães e para o mundo
Desporto
Publicado em 28/03/2022

Inteligente, confiante, focado, determinado, persistente e responsável. Estas são algumas das palavras que os colegas de equipa escolheram para descrever Ali Hasan, jogador das camadas de formação do Grupo Cultural e Desportivo Águias Negras. É de amarelo que se equipa sempre que sobe ao relvado: o amarelo da esfera armilar da bandeira portuguesa e que não entra na cartela de cores da bandeira da Síria. É entre estas duas nações que Ali passou os quinze anos de vida que conta. Nasceu na Síria no dia 5 de janeiro de 2007. Foi nesse país de desertos, de montanhas e de planícies férteis, e que é o seu, que viveu durante 12 anos. Depois a Síria transformou-se num teatro de guerra que roubou vidas e interrompeu infâncias. Ali Hasan foi um dos cinco milhões de refugiados que encontrou uma nova casa longe de casa: foi em Guimarães e agora aproveita o voo das águias para manter vivos os sonhos.

Foi há três anos que Ali Hasan, hoje com 15 anos de idade, aterrizou em Portugal com Guimarães por destino. Para trás devem ter ficado os amigos, o seu quarto e a sua casa, a escola e o resto da família. Para trás ficaram também os relvados, os treinos, os jogos e uma equipa. No entanto, Ali não deixou na Síria o amor ao futebol. Trouxe-o na bagagem e, na cidade berço, encontrou um novo emblema com a figura de uma águia negra. Regressou aos relvados, voltou a vestir um equipamento, conheceu uma nova equipa e voltou a ter horários para treinar. No entanto, a burocracia impediu Ali Hasan de jogar.

Apesar de não poder jogar, estes não foram anos desperdiçados e a chegada do jovem sírio ao clube vimaranense não deixou ninguém indiferente. Dizem os colegas que, ao longo dos últimos anos, Ali ensinou a todas as equipas do clube, e não apenas à sua, “o verdadeiro valor da partilha, do acolhimento e da união”. Ensinou-os, dizem, a nunca desistir dos sonhos “mesmo que pareçam difíceis de alcançar”.

Dizem os ditados populares que a paciência é uma virtude e também que as coisas boas estão reservadas aos que esperam. Ali Hasan esperou, foi “calmo” e “otimista” e, por fim, provou a bonança. No dia 24 de março, a Associação de Futebol de Braga confirmou, via e-mail, a inscrição de Ali Hasan e fez chegar ao clube a licença para que possa jogar e representar oficialmente o Grupo Cultural e Desportivo Águias Negras. O cartão azul simboliza três anos de luta e de burocracia, mas também de esperança para um futuro de sonhos. Foi esse cartão que os colegas entregaram a Ali para depois, perante a emoção de todos, o envolverem num abraço. O momento foi registado em vídeo e agora corre mundo: chegou às redações dos jornais portugueses e voou para fora das fronteiras para figurar, por exemplo, nas redes sociais da COPA90, uma plataforma inglesa de produção e distribuição de conteúdo sobre futebol e cultura futebolística.

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