Pepa pediu continuidade à equipa antes de embarcar para a Madeira. Num reduto que geralmente impõe dificuldades particulares aos visitantes, o Vitória foi sempre superior, mas encaminhava-se – quase sem saber como – para um empate sem golos. À passagem do minuto 80, estava (quase) tudo como tinha começado: 0-0 no marcador. No entanto, Pepa – ainda sem saber – já tinha lançado as sementes para depois colher frutos que já há muito não despontavam no jardim vitoriano: um triunfo forasteiro sem golos sofridos. Isto é o mesmo que dizer que já tinha lançado, aos 75’, Janvier e Geny (para render Tiago Silva e Rúben Lameiras). O francês encarregou-se de fazer abanar as redes da baliza de Paulo Victor e, num jogo que começava a parecer enfadonho – e de sentido único –, foi esta dupla que adicionou brilhantismo e desatou um nó que parecia demasiado teimoso.
Há mais de três meses sem vencer fora de portas. Sem conseguir conquistar dois triunfos consecutivos também há mais de três meses. Há 20 jogos consecutivos a sofrer golos. Sem conseguir repetir o onze inicial durante muitas jornadas. Estas eram algumas das sombras que pairavam no castelo antes do jogo da 26.ª jornada da Liga Portugal bwin. Hoje, a meio da tarde, parou a contagem. O Vitória, finalmente, voltou a vencer fora de portas. O Vitória, finalmente, voltou a alcançar uma sequência de dois triunfos. O Vitória, finalmente, passou 90 minutos de uma partida sem sofrer golos. Tudo isto, finalmente, com o mesmo onze inicial que Pepa repete pelo terceiro jogo consecutivo. As nuvens afastaram-se para deixarem brilhar o sol da Madeira e, finalmente, o Vitória foi destemido e superior ao adversário e, embora o golo tenha demorado a aparecer, foi capaz de se impor no terreno de jogo. Se houver alguém capaz de contestar este triunfo, será somente pela pouca expressão no marcador. Quando soou o apito final, 0-1 pareceu pouco.
Foi preciso esperar mais de meia hora para ver os anfitriões levar perigo à baliza de Bruno Varela. Joel Tagueu foi o homem que se aproximou da baliza vitoriana em zona perigosa, mas para despacho fácil do guardião vitoriano. Por essa altura, já Rúben Lameiras e Óscar Estupiñan tinham tido oportunidades – sim, no plural – para inaugurar o marcador. O colombiano até chegou ao golo ao minuto 18, mas em clara posição irregular. O Vitória seguiu no mesmo ritmo até ao intervalo: André Almeida e Alfa Semedo também tiveram oportunidade de adiantar a equipa. As ocasiões de golo sucederam-se numa primeira parte que foi dominada por uma só equipa. O Marítimo, em sentido contrário, continuava perdido no tapete verde, sem saber o que fazer. A superioridade dos continentais fazia-se acompanhar de doses de azar. Quando recolheram aos balneários, estava tudo empatado.
O contador adiantava-se e o semblante de Vasco Seabra denotava cada vez mais preocupação. A entrada das formações na segunda metade voltou a refletir as tendências da primeira: o Vitória a ser superior, com melhores argumentos e com mais perigo junto da baliza adversária. Desta feita, era Rochinha a evidenciar-se com jogadas de letra, mas sem concretizar as ameaças. A melhor oportunidade, porém, saiu dos pés de Estupiñán quando se contava uma hora de jogo. O colombiano, no coração da área, rematou de primeira, mas por milímetros acabou por atirar a bola ao ferro em vez de atingir o interior das redes. O resultado começava a ser inacreditável: parecia inacreditável ao Vitória não estar confortavelmente na liderança e parecia, por certo, inacreditável aos da casa não estar a sofrer. Guitane e Vidigal não quiseram deixar que o Marítimo atirasse a toalha ao chão e chegaram com perigo perto de Varela, mas persistia o empate na Madeira. A espera, porém, valeu a pena. O golo solitário, assinado por Janvier, ficou na retina. A combinação de Geny com o jogador francês, que disparou uma bola indefensável, foi o toque de brilhantismo que não faltava. Um golo de letra para ver e rever.
Com uma exibição categórica e um triunfo que só merece contestação por se ter consumado apenas pela margem mínima, o Vitória mantém-se, desta forma, num trilho que há muito procurava na antecâmara da receção ao Sporting Clube de Portugal. Os comandados de Pepa asseguraram o 6.º lugar, agora com 36 pontos, e continuam a depender de si – e de si apenas – para manter a posição (último lugar possivelmente europeu) até ao último apito final do campeonato. Apesar de não ter aumentado distâncias para o Estoril Praia (agora com 34 pontos), que também venceu nesta jornada, aumentou distâncias para o Marítimo (32 pontos). A receção ao segundo classificado está agendada para o próximo sábado, dia 19, às 20h30.
Foto: Vitória SC