Quando a noite já estava cerrada em Indian Wells, nos Estados Unidos, amanhecia em Portugal. Num dos courts do BPN Paribas Open – o torneio que é, por muitos, visto como o quinto Grand Slam – João Sousa gritava em bom português, no meio de desabafos de frustração, que era inacreditável. Ao mesmo tempo fazia Pedro Martinez, do outro lado da rede, morder a raquete em sinal de desespero. Quando o encontro se encaminhava para ser jogado e decidido nos termos do vimaranense, que chegou a servir para empatar o encontro, as contas mudaram e foi o espanhol que levou a melhor ao vencer por 2-0, com os parciais 6-4 e 7-5. No torneio em que entrou como lucky loser, para preencher a vaga de Novak Djokovic, o português caiu na primeira ronda do quadro principal, mas a derrota deixou um sabor amargo. No fim, ficou a sensação de que o desfecho podia ter sido outro se Sousa não tivesse falhado bolas que, por norma, são garantidas.
O emparelhamento da primeira ronda do torneio estadunidense ditou um duelo ibérico entre o 85.º do ranking ATP, o português, e o 49.º da classificação, o espanhol. No entanto, os 40 lugares de diferença na tabela não se manifestaram dentro de quadra e o português mostrou estar à altura de vencer um jogador classificado num dos primeiros 50 lugares do ranking, feito que não alcança desde setembro de 2019. Apesar de ter entrado mal na partida, Sousa fez com que o ascendente mudasse no segundo set, alcançou uma vantagem confortável e serviu para empatar o encontro, mas na reta final claudicou. A partida, sempre equilibrada e repartida, foi decidida nos detalhes.
O vimaranense entrou na partida a cometer muitos erros, mais do que o habitual, e com uma tremenda dificuldade em aproveitar as oportunidades que lhe eram apresentadas. E, quando Sousa não as aproveitava, dava permissão a Martinez para o fazer. O tenista de 32 anos foi quebrado logo no primeiro jogo, permitiu que o espanhol cavasse um fosso de dois jogos e, apesar de nunca deixar que se afastasse, continuava a não conseguir dar a resposta que queria. Metade dos dez jogos do primeiro set foram decididos nas vantagens e este dado estatístico serve para atestar o equilíbrio entre os adversários no piso duro dos Estados Unidos da América. Com 6-4 no marcador, Martinez fechou o primeiro. No entanto, perder o set inaugural não dita, nas contas de João Sousa, o desenlace do encontro. Afinal, ao longo da carreira, o vimaranense deu a volta a 22,3%, ou seja, a 55 encontros em que perdeu o primeiro set.
O ascendente mudou no início do segundo parcial e o português parecia outro jogador: mais confiante, mais capaz e a acreditar na reviravolta. Com uma entrada contundente – Martinez ficou em branco no primeiro jogo –, cavou o maior fosso que se viu nesta partida: três jogos de vantagem, 0-3 no marcador. Manteve-se na liderança, mas foi convidando Martinez a aproximar-se quando falhava bolas que, em teoria, não ia falhar. Apesar da aproximação, o vimaranense serviu para fechar o segundo set aos 3-5 e, assim, empatar a partida. No entanto, não deu o melhor destino a uma bola que tinha tudo para ser sua. Essa jogada não mais saiu da cabeça do vimaranense: despoletou, minutos mais tarde, um audível desabafo de que tinha sido “inacreditável” falhar aquele volley de esquerda. Quando o espanhol chegou ao 5-5, João Sousa ainda tentou lutar, não vendeu nada barata a derrota, mas já estava traçado o destino. O português salvou três pontos de jogo, mas não conseguiu dar resposta ao às de segundo serviço com que Martinez encerrou o encontro: 7-5.
O vimaranense vai manter-se no mesmo país, mas vai mudar de cidade: Miami é a próxima paragem. João Sousa vai apontar as setas para o Masters 1000 de Miami antes de regressar à Europa para a época de terra batida.