Há um castelo a ruir na cidade berço e parece difícil impedir a derrocada. Depois da derrota na casa do último classificado, o Vitória queria, em teoria, esboçar uma resposta frente ao penúltimo. Pepa mudou cinco peças face ao jogo em Lisboa e mudou o sistema de jogo ao incluir dois pontas-de-lança no onze inicial: Bruno Duarte e Estupiñán jogaram juntos na frente de ataque. No entanto, o Vitória nunca conseguiu transpor a teoria para o plano prático. No Estádio D. Afonso Henriques, os comandados de Pepa não foram capazes, em nenhum momento dos 90 minutos, de contrariar os desígnios dos pupilos do vimaranense Armando Evangelista. O Arouca foi superior, jogou sempre com calma e confiança, confortável no jogo, e, no final, ganhou por 1-3. Um resultado que espelha o que se passou dentro do rectângulo de jogo.
Os quatro golos da partida constam na primeira metade da ficha de jogo. O Arouca, que entrou sem medo e sem complexos na partida, pese embora só contasse um triunfo no histórico de confronto com os conquistadores, tinha pressa para voltar a respirar. Mergulhado na cauda da tabela, os arouquenses marcaram ainda antes de o contador chegar ao primeiro quarto de hora. Na sequência de um pontapé de canto, o central Basso saltou mais alto do que Alfa e Mumin e atirou para o fundo das redes de Varela. O Vitória precisou de tempo para atar novamente o nó, mas criou pouco perigo à baliza guardada por Victor Braga. Foi só ao minuto 26 que Estupiñán chegou ao golo do empate. O golo começou a ser desenhado no corredor direito, nos pés de João Ferreira. O português fez um belo cruzamento e o colombiano, imbuído do espírito mais autêntico de ponta-de-lança, assumiu o resto para anular a vantagem adversária.
As redes voltaram a mexer-se dez minutos depois. O Arouca continuava a ser mais perigoso e, em consequência, cumpria o que Evangelista tinha pedido na antevisão: deixar o Vitória desconfortável. E uma equipa desconfortável é uma equipa que comete erros. Foi uma sequência de erros que deu origem ao segundo golo. Rochinha perdeu a bola ainda no meio-campo arouquense. O resto explica-se facilmente, embora seja difícil de entender. Numa primeira fase, ninguém conseguiu travar Bukia, que cruzou para Antony. O brasileiro, sozinho à entrada da área, com tempo e espaço, atirou com facilidade para o golo.
Empatado ou a perder, a estratégia - e a atitude - dos vitorianos parecia não sofrer qualquer alteração e a falta de pressão sobre os jogadores adversários dava origem a situações que ameaçavam dilatar a vantagem mais do que o empate. As ameaças concretizaram-se pouco antes de Artur Soares Dias apitar para o intervalo. Depois de ultrapassar um meio-campo apático, Bukia não encontrou qualquer obstáculo e contornou uma defesa amorfa. Quando as equipas recolheram aos balneários, é provável que todos os jogadores tenham olhado duas vezes para o marcador. Nem os caseiros acreditavam, quando entraram no estádio ao início da noite, que iam estar a perder por dois golos com o antepenúltimo depois de 45 minutos jogados e provavelmente nem os antepenúltimos acreditavam que iam estar a vencer confortavelmente uma equipa da primeira metade da tabela ao intervalo.
A toada manteve-se nos últimos 45 minutos. Pepa ainda mexeu na equipa: lançou Quaresma e André Almeida no intervalo, lançou Janvier e ainda Geny para a estreia absoluta e, por fim, chamou Nélson da Luz. Mas nada iluminou um castelo a desfazer-se. O Vitória continuou a ser incapaz de ameaçar o conforto do Arouca e foi incapaz de mudar, incapaz de responder à desvantagem e incapaz de forçar a equipa arouquense a errar. Nos últimos 45 minutos, o jogo pareceu sempre estar mais a favor do quarto golo do Arouca do que de um golo - pela honra - do Vitória.
Com o desfecho do encontro da 23.ª jornada, o Vitória aguarda em 6.° lugar pelo desfecho da ronda. Na segunda-feira, se o alinhamento dos resultados for o mais desfavorável de todos - ou seja, se Estoril Praia, Marítimo e Portimonense vencerem os respectivos jogos-, o Vitória desce ao 9.° posto da Liga Portugal bwin. Por enquanto, os vimaranenses têm como certeza a distância de 10 pontos para o Gil Vicente e, portanto, para o último lugar que garantidamente dá acesso às noites europeias. O apito final foi acompanhado pelos assobios e lenços brancos dos adeptos nas bancadas. Com o castelo a ruir, o Vitória vai deslocar-se ao Estádio da Luz no próximo domingo.
Foto: Catarina Morais/Kapta+