Francisca Jorge quer "jogar sem lesões e o mais saudável possível"
Desporto
Publicado em 17/02/2022

Foi no último dia de Novembro que a vimaranense Francisca Jorge subiu ao court pela última vez em ritmo de competição. As recordações não são boas uma vez que o encontro com a helvética Ylena In-Albon na primeira ronda do ITF de 25 mil dólares de Selva Gardena, Itália, decidiu-se quando Kika, como é carinhosamente conhecida nos meandros da modalidade, foi forçada a retirar-se. Com o resultado a apontar 7-5 e 3-3 a favor da adversária, que chegou a estar a perder por 1-3 no segundo set, as dores não deram alternativa à melhor tenista portuguesa da actualidade. E são as dores que continuam a não lhe dar alternativa e a afastá-la das raquetes e das bolas amarelas. “O combinado entre equipa é que não entro em jogo com dores”, explicou-nos desde o seu quarto no Centro de Alto Rendimento do Jamor, em Oeiras.

São mais de dois meses e meio sem competir. No início de Fevereiro, a vimaranense tentou voltar à quadra. Foi para o Porto com intenção de jogar o primeiro de dois torneios ITF de 25 mil dólares no Complexo de Ténis do Monte Aventino, mas uma vez mais viu-se obrigada a desistir, desta vez ainda antes de o torneio começar. A causa é já bem conhecida da tenista portuguesa e tem sido fonte de incómodo ao longo da carreira: “eu sofri de uma ruptura abdominal, ou microrruptura porque é uma ruptura bastante pequena, mas estou ainda a recuperar”. A viagem para a Porto, na companhia da irmã Matilde Jorge, que também estava inscrita no torneio, foi uma tentativa de “acreditar que conseguia jogar”, mas provou-se infrutífera e revelou o que ninguém queria: “estava com algumas dores e não quisemos arrastar como fizemos da última vez, fiz uma ecografia e acabou por confirmar o que suspeitávamos”.

Por enquanto, Kika está lentamente e sem pressa a recuperar com o objectivo de “fazer o melhor possível para voltar mais forte e fisicamente melhor para que nos próximos tempos consiga e possa jogar sem lesões e o mais saudável possível”. O processo, principalmente para quem já o viveu no passado, é demorado, cheio de incertezas e requer muita paciência, afinal está em jogo mais do que o resultado de um jogo e de um torneio ou o início desta época. “Vamos tentar fazer da forma certa e corrigir, de alguma forma, o que possa ter corrido mal na recuperação da última lesão para que não se repita nos próximos tempos e quem diz nos próximos tempos diz também na carreira inteira”, explicou a tenista.

Nos últimos dias, Francisca Jorge não tem pisado o court nem tem pegado na raquete para ouvir o som característico da bola a bater nas cordas. Para além de ter desistido do último torneio em que estava inscrita, os planos de viajar por três semanas depois dos dois torneios agendados para o Porto ficaram de lado e a concentração foi canalizada para o processo em curso. Pela frente estão mais umas semanas de recuperação e resguardo. “Já estou há duas semanas sem ténis, só a fazer a parte de prevenção e recuperação”, contou-nos. Os planos para o futuro próximo ainda estão a ser delineados: “na próxima semana já vou aumentar um bocadinho a intensidade nos treinos e gostava de meter ténis, mas acho que não vai ser possível”. O regresso à competição não tem ainda data definida, mas Kika acredita que ainda não está para breve. “Eu acho que nas próximas quatro semanas não vou competir”, disse.

No meio de um processo de recuperação e de muitos dias – mais do que o normal – sem competir, Francisca Jorge recebeu uma boa notícia. Reforçou o estatuto de melhor tenista portuguesa da actualidade ao ascender ao 369.º lugar do ranking WTA, um novo máximo de carreira na hierarquia mundial (a irmã Matilde Jorge é o terceiro nome nacional e está no 834.º lugar). Kika está “contente por ter atingido um melhor ranking”, mas reconhece que pouco fez para merecer esta ascensão. Trata-se, no fundo, da matemática que norteia o ranking e pouco mais. Para a tenista vimaranense, “este número é um bocadinho mentiroso” e não é o que mais importa. O que importa, diz, é regressar saudável aos treinos, aos jogos e à competição. E se lhe dessem a escolher entre atingir um novo máximo na classificação ou estar a jogar sem qualquer impedimento, não tinha qualquer dúvida. Para quem está habituada a ganhar dentro de court – e já conta com 28 títulos nacionais em todos os escalões, sendo que 10 já foram na categoria sénior –, poder jogar é a conquista mais importante de todas.

Foto: Federação Portuguesa de Ténis

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