Para o Brito "não há impossíveis" a caminho de Amora
Desporto
Publicado em 12/02/2022

Foi ao final da tarde de sexta-feira que o treinador João Santos e a sua equipa saíram de Guimarães. O autocarro em que partiram, com destino à freguesia de Amora, em Lisboa, tinha mais de 360 quilómetros pela frente até chegar ao destino quando falamos com o treinador pela primeira vez. Pede para ligarmos um bocadinho mais tarde. Naquele momento estava a embarcar para uma viagem histórica e inédita, a viagem que ia conduzir o Brito SC, pela primeira vez na história, a disputar um encontro dos oitavos-de-final da Taça de Portugal. É a terceira participação do clube na prova-rainha do futebol português e, aconteça o que acontecer, já é a melhor: em 2019/20, na primeira participação de sempre, o emblema vimaranense alcançou a segunda eliminatória; na última edição ficou o travo amargo de quem viu a prova ser interrompida depois de ter marcado uma deslocação ao reduto do SL Benfica. Por enquanto ainda não há desfecho para esta.

O Brito SC teve de derrotar o GDR Canaviais por 1-0 e o Padroense por 0-2 para chegar aos oitavos-de-final da presente edição da prova. Depois de duas equipas do mesmo terceiro escalão, as vimaranenses têm pela frente o maior desafio da temporada: o Amora FC, equipa que milita na Liga BPI. Voltamos a ligar para mais tarde. Já a noite ia cerrada quando o treinador e as suas comandadas se faziam à estrada, mas o burburinho que se ouvia deste lado da chamada deixava perceber que o entusiasmo era ingrediente principal. A meio da viagem para a capital, o treinador esteve à conversa com a Rádio Inquieta para explicar como têm sido estes dias de preparação para um encontro irrepetível na história do clube. João Santos contou-nos que “foi preciso trabalhar mais a parte mental para fazê-las acreditar que é possível” vencer uma formação primodivisionária. O triunfo folgado por 0-4 sobre a UD Polvoreira no último fim-de-semana, em jogo da Taça Promoção, dá “mais moral” à equipa, que trabalhou melhor sobre um triunfo do que trabalharia sobre uma derrota.

O treinador traça o perfil às adversárias: “é uma equipa muito rápida na frente de ataque, uma equipa que tem jogadoras que concretizam bem no último terço do campo e que tem um sector defensivo que mete a bola a andar rápido na frente”. Na Liga BPI, o Amora FC está a disputar o apuramento de manutenção e, num lote de oito equipas, não há quem se esteja a sair melhor. As lisboetas não têm qualquer mácula no currículo, venceram as cinco partidas da fase e estão isoladas na primeira posição, encaminhadas para se manterem no primeiro escalão. João Santos destaca as individualidades das amorenses, mas destaca sobretudo que as suas jogadoras estão cientes de tudo isto e “só lhes dá mas força para entrarem mais focadas e com mais vontade de ganhar”.

Se é verdade que o Amora FC tem como argumentos o estatuto de primeira divisão e atletas de indubitável qualidade, não é menos verdade que o Brito SC pode argumentar que vai entrar em campo com onze jogadoras e também com a freguesia de onde partiu na noite anterior. É que foram as pessoas de Brito que possibilitaram a viagem da equipa para Lisboa antecipadamente. Primeiro foi o treinador que insistiu que partissem antes e não apenas no próprio dia do jogo. Quando falamos por chamada, reproduziu as palavras que proferiu depois do sorteio: “eu não dou nada como perdido, eu vou para disputar a eliminatória e se é para ir no dia vamos entrar a perder 1-0 já porque vamos cansados, vamo-nos pôr a pé cedo, não vamos descansar de noite, vamos fazer uma viagem de cinco horas, almoçar à pressa, ir para dentro de campo e tornar a vir para cima, eu vou para disputar, vamos fazer o possível e o impossível para ir no dia anterior, ver os apoios que conseguimos angariar”. Depois a Taça aconteceu.

O futebol é uma modalidade colectiva e a história de como o Brito se pôs a caminho de Amora é testemunha disso mesmo. Para além de “alguns patrocinadores que vinham do início da época e nos ajudaram”, João Santos nota também que as pessoas que abordaram especificamente com este objectivo de viajar para Lisboa “conseguiram ajudar” e “cada um contribuiu com o que pôde”. Para além destas ajudas e da participação da Câmara Municipal de Guimarães e da Junta de Freguesia de Brito, o clube pôs “uma latinha” na sede social, especificou “o motivo de a lata lá estar” e as pessoas foram deixando o seu contributo, fosse “muito ou pouco”. Houve ainda o sorteio de uma camisola autografada por todas as atletas. A ajuda chegou de muitos lados: “patrocinadores, pais, familiares, amigos, pessoas que não têm família no plantel e que gostam do Brito”. Todos contribuíram para tornar possível fazer a viagem para Lisboa no dia anterior e preparar como deve ser preparado um jogo dos oitavos-de-final da Taça de Portugal.

João Santos sublinha que “fomos pondo as atletas ao corrente em relação aos apoios que estávamos a ter e elas vão estar no máximo das suas capacidades também em forma de agradecimento”. O treinador vinca que todas as pessoas que ajudaram “podem contar que a equipa vai estar no máximo para honrar todo o apoio que têm recebido” e que “vão fazer isso por elas, porque para elas também é óptimo estar num palco como o do Amora, da Liga BPI, mas também pelas pessoas que nos ajudaram”. Na análise, João é realista e, com efeito, não descarta um cenário em que o Brito seja eliminado da competição, mas importa-lhe mais que seja com honra. “Vamos para Amora, vamos a jogo, os 90 minutos têm que ser jogados e se cairmos, caímos de pé. É isso que eu vou pedir às minhas jogadoras. Não há impossíveis, mas se cairmos, temos de cair de pé”, disse. E acrescentou: “E, se cairmos de pé, elas estão de parabéns na mesma porque já estão a fazer muito, mas queremos fazer mais, queremos ir aos quartos-de-final da Taça de Portugal”.

Às 15 horas da tarde de hoje, sábado, dia 12 de Fevereiro de 2022, o Brito SC vai pisar o tapete verde do Centro de Treinos do Serrado, na freguesia de Amora, e escrever uma página que estava em branco na história do clube vimaranense. Em jogo vai estar a possibilidade de continuar a fazer o que ainda não foi feito: vencer e ultrapassar uma equipa da primeira divisão e alcançar os quartos-de-final da prova-rainha. “Não há impossíveis”, diz o treinador João Santos. E concluí: “vamos entrar em campo a saber que a eliminatória não está decidida antes de começar o jogo, só estará decidida no final”.

Foto: Brito SC

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