Raquel F. Veiga
A uma época desportiva atípica está a seguir-se outra época desportiva atípica. O futebol já não está suspenso, as competições estão a decorrer e os adeptos podem sentar-se nas bancadas depois de mais de uma temporada afastados, mas a sensação de normalidade ainda não paira no futebol nem na vida e menos ainda nos escritórios da Associação de Futebol de Braga. A entidade responsável por supervisionar as competições distritais de futebol e futsal tem sido confrontada com um número anormal de jogos adiados em consequência da trajetória ascendente da curva que assinala os casos de infeção por covid-19 em Portugal. Já há mais de 300 jogos adiados à espera de nova data. O presidente Manuel Machado reconhece que é um número elevado, mas diz que ainda “há margem” para cumprir com o calendário. Ilda Ribeiro, que supervisiona as competições, complementa: “há preocupação, mas até 30 de junho podemos fazer muita coisa”.
A conversa com Ilda, diretora de competições da AF Braga, é fácil. Apesar de admitir que por estes dias não há muitas horas que sejam boas para conversar e que o tempo que tem ocupado é proporcional ao número de jogos adiados que requerem a sua atenção, não recusa responder a nenhuma pergunta nem tem pressa nas respostas que dá. Parece saber todos os números de cor quando os debita em resposta às questões colocadas pela Rádio Inquieta.
Ao final da tarde de sexta-feira, dia 21, os números ainda não eram definitivos. No fim-de-semana anterior, a notificação do último jogo adiado em consequência da confirmação de casos positivos de covid-19 chegou na madrugada de sábado para domingo, já depois da uma da manhã. “Pode ser a qualquer momento”, explica. E ficou firmado o compromisso de repetir a conversa depois do fim-de-semana. Na segunda-feira à tarde, Ilda já tinha os números finais e confirmou que mais duas dezenas de jogos tinham sido adiados no espaço temporal de dois dias.
Vamos, pois, aos números. O organismo distrital organiza entre 300 e 400 jogos por semana. Em períodos comuns, com todas as competições a decorrer sem qualquer impedimento, são mais de quatro centenas. Nos últimos dias 22 e 23 de janeiro – ou seja, no último fim-de-semana – estavam agendados 327 jogos em todos os escalões de futebol e futsal que se encontram sob a tutela da Associação de Futebol de Braga. No entanto, nos dias que correm é a pandemia, e não o calendário, que tem a última palavra. Deste universo de mais de 300 jogos, apenas 187 aconteceram conforme planeado. Os restantes 140 foram adiados para um futuro que se espera menos assombrado. Contas feitas, significa isto que 43% dos jogos programados para o último fim-de-semana não aconteceram. No fim-de-semana anterior – entre 15 e 16 de janeiro – tinham sido adiados outros 67 encontros.
No que respeita ao concelho de Guimarães, a diretora de competições da Associação de Futebol de Braga registou o adiamento de 33 jogos de todos os escalões de futebol de onze e 24 jogos de todos os escalões de futsal inicialmente agendados para o fim-de-semana de 22 e de 23 de janeiro. Uma pesquisa à agenda das equipas masculinas de futebol que militam nos três escalões distritais – Pro-Nacional, 1.ª Divisão e Divisão de Honra – permite concluir que a pandemia alterou os planos a onze equipas vimaranenses com o adiamento de sete partidas inicialmente programadas para estes dois dias.
E quais são os critérios para que o organismo distrital determine o adiamento de um jogo? “Basta uma equipa provar que tem 25% do plantel infetado”, explica Ilda Ribeiro. Em alternativa, há jogos adiados por acordo mútuo entre dois clubes quando a percentagem de atletas em isolamento não atinge o valor regulamentado ou por ordem de um delegado de saúde. “Se comprovar que está 25% do plantel indisponível, ninguém tem de acordar ou deixar de acordar; nós adiamos e depois marcamos novo jogo”, concluí Manuel Machado, presidente do órgão regulador.
O líder máximo da Associação de Futebol de Braga diz que “não há ninguém a pedir para parar as competições”. Por enquanto, há soluções à vista para resolver o problema em tempo útil. Aproveita-se dos números para explicar que ainda está tudo sob controlo: “com 300 e tal jogos adiados, basta considerar que nós normalmente organizamos mais de 400 numa semana para perceber que não é nada que não se possa resolver”. Ainda assim, é preciso que a vida fora do relvado se recomponha para que as soluções possam ser aplicadas ao mundo real. No próximo fim-de-semana, a paragem da Taça AF Braga vai ser aproveitada para que algumas equipas acertem as contas das jornadas que ficaram por disputar. Há formações com partidas do campeonato agendadas para dia 29. No entanto, diz Ilda, “não podemos fazer muita coisa porque o dia 30 é de eleições e, por norma, a Associação não marca jogos no dia das eleições”.
Se as datas apontadas – sempre ao fim-de-semana ou em feriados – para começar a regularizar a situação não forem suficientes ou se o número de jogos adiados continuar a aumentar, vai ser necessário recorrer ao plano alternativo: jogar durante a semana. Tratando-se de competições distritais, há dificuldades incontornáveis e o presidente aponta-as: “são jogadores amadores, que trabalham, e jogar à tarde não dá, tem de ser à noite, mas é difícil a meio da semana por causa dos campos com luz artificial aprovada”. Ilda também sublinha que a prioridade é usar paragens no campeonato e feriados, mas é preciso considerar as alternativas: “o nosso regulamento prevê que sempre que haja jogos em atraso temos de, em último recurso, tentar repô-los a meio da semana em campos dos clubes ou campos que os clubes arranjem ou que a Associação eventualmente arranje”.