Raquel F. Veiga
Pairou sobre o Estádio D. Afonso Henriques a repetição de um filme que o Vitória de Pepa já viu demasiadas vezes e o adversário, mais eficaz na primeira parte, ameaçou mergulhar a equipa da casa numa série de jogos ainda mais sombria. Duas equipas em crise – ambas sem triunfos nos quatro jogos anteriores – queriam aproveitar a ronda 19 da Liga Portugal bwin para mudar a narrativa. Um triunfo representaria, para qualquer uma das formações, a aproximação aos lugares europeus. Foi o Vitória que se adiantou, mas precisou de sofrer e de operar uma cambalhota no marcador.
Uma tarde de Domingo com sol pede um filme leve e tranquilo. No entanto, com o realizador Pepa ao comando e os atores vestidos de branco perante uma plateia que também é personagem principal, esse pedido raramente é atendido. Houve drama e um plot twist e o herói acabou por finalmente triunfar. O final feliz depois de tantas cenas sinuosas dá esperança na procura de dias mais felizes.
O Vitória entrou na partida de hoje a dominar a posse de bola e a controlar o jogo, mas sem argumentos para fazer valer os seus trunfos e lançar-se para a vantagem. Aos 18’ e aos 22’, Rafa Soares e Alfa Semedo ameaçaram chegar ao golo. O remate do primeiro à malha lateral da baliza de Thiago Silva fez com que alguns adeptos se levantassem da cadeira para festejar. Falso alarme. Quando os canarinhos recuperavam do susto, Alfa Semedo teve a melhor oportunidade da primeira metade: depois de dominar com o peito, disparou e só foi travado pela barra. Janvier e Edwards também tentaram, mas com desfechos parecidos.
O contador aproximava-se da meia hora de jogo quando André Franco, melhor marcador dos estorilistas, chegou ao primeiro da partida. A jogada começou nos pés de Romário Baró que, no corredor central, não se deixou incomodar por nenhum jogador vitoriano, esperou pelo momento certo e deixou o esférico bem colocado nos pés do número dez da equipa. O golo sofrido – e contra o sentido do jogo – afetou a formação da casa e deu confiança aos visitantes para galgar pelo terreno de jogo sempre que a oportunidade surgia. Ainda assim, o Vitória continuava à espreita. Primeiro foi a barra a negar o golo aos vitorianos e depois foi o poste. Aos 38’, e Lameiras viu o azar bater-lhe à porta quando, depois de bater no poste, a bola fez uma trajetória contrária à linha de golo.
No regresso dos balneários, Pepa trocou uma peça da engrenagem e Rochinha entrou para o lugar de André André. Estava lançado um dos protagonistas do jogo. O extremo entrou bem na partida, imprimiu-lhe outro ritmo e outra frescura e chegou ao golo do empate quando se contava uma hora de jogo em Guimarães. A espetacularidade que a partida ainda não tinha conhecido saiu dos pés de Rochinha e o remate potente ao ângulo transformou-se no golo que deu ânimo para a remontada. Os quase oito mil adeptos – que já tinham visto o golo ser-lhes negado mais do que uma vez – começaram a acreditar num resultado finalmente diferente.
Óscar Estupiñan não quis ocupar um papel secundário neste filme e decidiu concorrer com Rochinha pelo troféu de melhor actor. O colombiano não precisou nem de dez minutos para lançar a equipa para a frente do marcador. Assistido por Rafa Soares, dominou com um pé e rematou com o outro para pôr o Vitória na liderança pela primeira vez na partida. Mas o marcador ainda não estava fechado. Os forasteiros, a perder, não viram razões para não desapertar as malhas defensivas e lançarem-se à baliza de Trmal. Clóvis e Rosier aproximaram-se com perigo, mas sem sucesso e um remate de Ferraresi ao poste ainda fez tremer os vitorianos. Mas foi mesmo Óscar Estupiñan (de novo) a fechar a contagem: já passavam três minutos dos 90’ quando o ponta-de-lança deu o melhor desfecho a uma jogada inspirada de Edwards.
Um filme que ameaçava ser repetido acabou por conhecer um desfecho feliz com um plot twist protagonizado por Rochinha e Estupiñan. O Vitória é assim lançado novamente para mais perto dos lugares europeus, agora com 27 pontos. Os comandados de Pepa ascenderam ao 6.º lugar, mas ainda esperam o desfecho da jornada e o acerto de contas do Estoril Praia, com menos um jogo. O 5.º lugar é cobiçado por Gil Vicente, Portimonense e Estoril, todos na corrida para receber noites de futebol durante a semana na próxima época desportiva. O Vitória tem agora encontro marcado com o vizinho FC Vizela. A deslocação de poucos quilómetros tem o apito inicial agendado para as 15h30 do próximo Domingo, dia 30.
Foto: Vitória SC